O que é Plano de Negócios? Ele ainda é importante?

O que é Plano de Negócios? Ele ainda é um documento importante para as empresas?

O que é Plano de Negócios? Ele ainda é importante?
Photo by Carlos Muza / Unsplash

Eu me lembro bem do primeiro plano de negócios que fiz no final de década de 90. A literatura ainda era escassa e no meu entendimento à época, aquele documento era imprescindível para a entrada no mundo das startups, dos grandes projetos web do início dos anos 2000.

Em uma noite fui na recém inaugurada Livraria Ática (que depois foi comprada pela rede francesa FNAC) e encontrei o livro de Fernando Dolabela, 'O Segredo de Luísa', que exemplifica de uma forma simples e prática, o desenvolvimento de um Plano de Negócios pela protagonista, a Luísa, que tem uma ideia inovadora. O exemplo do livro não tinha nada a ver com a minha área - a Luísa queria vender um doce de banana em barra e eu um portal de serviços na Internet - mas o livro me ajudou a dar uma direção, mais ou menos segura, de onde eu deveria ir.

Os anos foram passando e muito mais literatura sobre o assunto surgiu. O próprio Fernando Dolabela escreveu outros livros e o Sebrae entrou com outras iniciativas como o curso EMPRETEC, entre outros cursos mais específicos. E inúmeras outras obras foram sendo traduzidas do inglês para o português.

Porém, passados 23 anos e com muito mais literatura e conteúdo disponíveis, por incrível que pareça, acredito que o tal do Plano de Negócios ainda permaneça um mistério para a maioria dos empreendedores tupiniquins. Seja por falta de contato com o tema ou por pura preguiça de escrever o documento, que convenhamos, é bastante trabalhoso de se materializá-lo.

Enfim, se você já chegou até aqui, vamos começar do começo.

O que é Plano de Negócios?

O Plano de Negócios é um documento que descreve detalhadamente as estratégias, os objetivos, as metas e atividades que serão realizadas para iniciar, desenvolver e gerenciar um negócio. É um documento que fornece uma visão geral do empreendimento e ajuda a identificar possíveis oportunidades e desafios de uma forma muito clara.

O plano de negócios geralmente inclui seções bem específicas como por exemplo, análise de mercado, análise da concorrência, a descrição do produto ou serviço oferecido, estratégias de marketing, análise financeira e projeções de receita e despesa. Estas duas últimas projeções (receitas e despesas) são o foco dos investidores.

O objetivo principal de um plano de negócios é fornecer um guia para o empreendedor, auxiliando-o na tomada de decisões importantes e no planejamento de ações que possam garantir o sucesso do negócio. Além disso, um plano de negócios é frequentemente utilizado para apresentar o empreendimento a possíveis investidores, parceiros ou fornecedores importantes.

O plano de negócios ainda é uma ferramenta importante nos dias de hoje?

Sim, o plano de negócios ainda é uma ferramenta muito importante nos dias de hoje. Embora muitas empresas possam ter sucesso sem um plano de negócios formal, ele continua sendo uma ferramenta valiosa para a maioria dos empreendimentos, especialmente para aqueles que estão pleiteando investidores ou tenham ambições maiores no mercado.

Um Plano de Negócios pode ajudar o empreendedor de diversas maneiras:

  • Definir claramente o negócio e seus objetivos, permitindo que ele se concentre em estratégias e táticas específicas para alcançá-los;
  • Identificar potenciais problemas e desafios e planejar maneiras de superá-los;
  • Analisar o mercado e a concorrência para identificar oportunidades e desenvolver estratégias competitivas;
  • Planejar o orçamento e as finanças do negócio e identificar fontes de financiamento;
  • Comunicar claramente a visão e os objetivos do negócio para outras partes interessadas, como investidores, parceiros e funcionários.

Em resumo, um plano de negócios é uma ferramenta valiosa para qualquer pessoa que esteja iniciando um negócio ou gerenciando um empreendimento já existente. Ele pode ajudar a garantir que o negócio esteja bem planejado, estruturado e preparado para enfrentar os desafios que surgirem ao longo do caminho.

Que seções compõe um Plano de Negócios?

Embora a estrutura exata de um plano de negócios possa variar de acordo com o tipo de negócio (indústria, comércio, serviços) e o objetivo específico do plano, em geral, ele deve conter as seguintes seções:

Resumo executivo

Uma breve descrição do negócio, seus produtos ou serviços, mercado-alvo, equipe de gerenciamento, objetivos de curto e longo prazo e plano financeiro geral.

Análise de mercado

Uma descrição detalhada do mercado em que o negócio opera, incluindo tamanho, crescimento, tendências e oportunidades de mercado. Esta seção deve incluir informações sobre a concorrência e como o negócio se diferencia dos concorrentes.

Descrição da empresa

Uma visão geral do negócio, incluindo sua história, missão, visão, valores, estrutura organizacional e produtos ou serviços oferecidos.

Plano de marketing

Uma descrição das estratégias de marketing que serão usadas para promover o negócio, incluindo posicionamento de mercado, público-alvo, canais de distribuição, preços, propaganda e promoção.

Plano operacional

Uma descrição de como o negócio será operado, incluindo localização, infraestrutura, recursos humanos, sistemas de informação e processos operacionais.

Plano financeiro

Uma descrição das finanças do negócio, incluindo previsões de vendas, despesas, fluxo de caixa, lucros e perdas, balanço patrimonial e orçamento geral. Esta seção deve incluir informações sobre fontes de financiamento e estratégias de gerenciamento financeiro.

Apêndices e anexos

Esta seção pode incluir informações adicionais, como currículos da equipe de gerenciamento, pesquisas de mercado, estudos de viabilidade, planilhas financeiras detalhadas e outros documentos relevantes.

Em resumo, um plano de negócios deve fornecer uma visão geral completa e detalhada do negócio, incluindo seus produtos ou serviços, mercado-alvo, estratégias de marketing, operações e finanças.

Concluindo

Essa é a definição básica e 'formal' do que é um Plano de Negócios. Ele ainda pode nos atender? Sim, mas nesses mais de 20 anos, outros modelos surgiram e vale à pena citá-los aqui para darmos um norte aos empreendedores que estejam em outra, digamos, 'vibe'. Empreendedores da área tecnológica atuais não se adequam muito a esse modelo mais engessado e por isso mesmo, o Vale do Silício tratou logo de criar outros modelos mais enxutos, rápidos e flexíveis, focados em suas atividades.

E quais são esse modelos?

Esses novos modelos colocam mais ênfase na execução e na experimentação do que na elaboração de um plano detalhado e rígido, como o antigo Plano de Negócios. Sim, o Business Plan surgiu na década de 50 nos Estados Unidos, chegando ao Brasil nos anos 60. Ou seja, é um modelo de mais de 70 anos.

Os Novos Modelos de Execução de Negócios

Lean Startup

O modelo Lean Startup, por exemplo, propõe que os empreendedores criem produtos e serviços mínimos viáveis (MVPs) e os testem com clientes reais para obter feedback e aprimoramentos, em vez de esperar para lançar um produto perfeito. Empresas como Dropbox e Airbnb usaram essa abordagem com sucesso para lançar produtos que se tornaram amplamente populares.

Business Model Canvas

O Business Model Canvas, por sua vez, é uma ferramenta visual que ajuda os empreendedores a definir e planejar seu modelo de negócios de forma mais estruturada e flexível, permitindo a iteração constante. Empresas como Spotify, Google e a Tesla, a fabricante de carros elétricos, usou o Business Model Canvas para planejar sua estratégia de negócios e desenvolver novos modelos de veículos elétricos.

Desing Thinking

O Design Thinking é uma abordagem centrada no usuário que enfatiza a compreensão profunda das necessidades e desejos dos clientes para criar soluções inovadoras. O Design Thinking envolve várias etapas, incluindo imersão no problema, análise de dados, geração de ideias, prototipagem e testes com usuários reais. Em cada etapa, a equipe envolvida no processo se concentra em entender os problemas dos usuários, suas necessidades e desejos, e usa essas informações para gerar ideias e criar soluções. Uma das empresas mais famosas por utilizar essa abordagem é a Apple.

Growth Hacking

O Growth Hacking já é uma abordagem de marketing que se concentra em experimentar e testar continuamente táticas e estratégias diferenciadas (e até ousadas) para acelerar o crescimento de uma empresa. O objetivo do Growth Hacking é encontrar maneiras criativas e inovadoras de adquirir novos clientes, aumentar a retenção de clientes existentes e impulsionar o crescimento do negócio.

O processo de Growth Hacking envolve várias etapas, incluindo a identificação de objetivos claros de crescimento, a criação de hipóteses sobre as táticas e estratégias que podem ser mais eficazes para alcançar esses objetivos, a experimentação dessas táticas em pequena escala, a medição dos resultados e o ajuste das estratégias com base nos resultados obtidos (testes A/B).

Algumas táticas comuns de Growth Hacking incluem a criação de conteúdo viral, a utilização de técnicas de SEO para melhorar a visibilidade da empresa nos motores de busca, o marketing de influência, o uso de técnicas de automação de marketing e o teste e otimização de campanhas publicitárias. Eu diria que são quase que como técnicas de 'marketing de guerrilha' da era digital.

Muitas startups usaram e abusaram dessas técnicas e com muito sucesso, entre elas o Uber, a ferramenta de produtividade Slack, e a plataforma de CRM HubSpot e muitas outras.

Conclusão Final

Existem outros modelos para o desenvolvimento de negócios como o Lean Canvas (uma variação do Business Model Canvas) e o Effectuation (um modelo que propõe que os empreendedores usem os recursos disponíveis para criar oportunidades de negócios). Esse último acho que os brasileiros conhecem bem (rsss).

De qualquer forma, acredito que o importante mesmo, é o empreendedor conhecer bem o seu mercado, o seu público consumidor, estar plenamente ciente de seus desafios e limitações e estar com os pés no chão. Uma vez que esteja minimamente preparado (completamente nunca estaremos), o modelo que irá seguir deverá ser aquele que mais se identifica, que mais se sinta à vontade, que pense ser mais adequado a sua empresa, a sua área de atuação. O resto é trabalho, fazer os ajustes necessários e muita determinação.

Bibliografia

O Segredo de Luísa - Fernando Dolabela
Curso EMPRETEC