Labubu: O Fenômeno do Monstrinho Pop
Do imaginário de Kasing Lung a fenômeno da cultura pop, veja como o Labubu virou ítem de colecionadores do mundo inteiro.

Introdução
Eu costumo dizer que brinquedos não são apenas objetos — eles são refúgios emocionais. E o Labubu, este monstrinho de dentes afiados e carinha inocente, é o perfeito exemplo disso. Mais do que um item colecionável, ele virou o espelho da nossa era: consumista, digital, tribo-dependente. É por isso que decidi mergulhar neste fenômeno cultural, para entender o que faz esse serzinho ocupar tanto espaço em bolsas, prateleiras, corações e até nos mercados financeiros.
1. Origens e Criação
1.1 Quem é Kasing Lung e o que inspirou o Labubu?
Labubu não surgiu de um brainstorming corporativo — ele brotou do imaginário de Kasing Lung, artista nascido em Hong Kong que cresceu na Holanda, bebeu da estética nórdica e hoje mora na Bélgica. É curioso como essas raízes multiculturais se condensaram em algo tão peculiar.
Em entrevistas e mostras, Lung conta que seu universo foi moldado pelos contos de fadas sombrios europeus e pelos livros infantis com criaturas travessas. Isso fica claro no Labubu: grande cabeça, olhos expressivos, corpo frágil e dentes afiados, num equilíbrio exato entre o “ugly-cute” que tanto fascina — um feio-fofo magnético. (readortex.com)
1.2 O salto com a Pop Mart
Mas foi em 2019 que o personagem encontrou sua catapulta: a parceria com a Pop Mart, gigante chinesa das blind boxes. O conceito? Você compra sem saber qual modelo vai receber, o que cria expectativa, repete compras, instiga o medo de perder (FOMO) e incentiva a formação de comunidades de troca.
A Pop Mart investiu pesado em design, storytelling e licenciamento, transformando o Labubu em miniaturas de vinil, pelúcia, chaveiros e até peças gigantes para eventos e leilões. Um ecossistema inteiro nasceu em torno do monstrinho.
2. Explosão cultural
2.1 Quando o Labubu virou mainstream?
Para mim, o ponto de inflexão foi quando a Lisa do BLACKPINK — megastar do K-pop — apareceu com um Labubu pendurado na bolsa, dizendo: “I go Pop Mart everywhere”. Isso virou trend global instantânea. Pouco depois, Rihanna, Dua Lipa, Kim Kardashian e até David Beckham foram flagrados com versões do bichinho. (people.com)
Esse movimento foi meticulosamente alimentado por influenciadores chineses e ocidentais. Não era só um boneco — era um passaporte para um clubinho fashion.
2.2 As redes sociais como motor
O TikTok explodiu com vídeos de unboxing, reações e customizações, passando de 50 bilhões de visualizações em conteúdos relacionados. (parents.com)
Ali eu percebi o apelo real: não era apenas sobre o monstrinho em si, mas sobre o ritual social — compartilhar, esperar, torcer, exibir.
3. Marketing e modelo de negócio
3.1 O jogo psicológico da blind box
Labubu é um case perfeito para se estudar o impacto do acaso nas compras. Quando abrimos uma blind box, nosso cérebro libera dopamina pela antecipação — o mesmo mecanismo explorado em loot boxes de games. A Pop Mart domina isso como ninguém. Segundo a labubu.city, em 2023, 70% das vendas vieram de caixas-surpresa.
Eu mesmo confesso que sentiria uma pontinha de culpa por participar disso — é quase um cassino de fofura.
3.2 IPO e musculatura financeira
A Pop Mart foi listada na bolsa de Hong Kong em 2020, valendo cerca de US$ 6 bilhões. Em 2024, suas ações dispararam mais de 360%, chegando a HK$ 201. E claro: o Labubu responde por boa parte do faturamento global de US$ 871 milhões em 2024. (zh.wikipedia.org)

4. Reações globais e polêmicas
4.1 Hype que virou confusão
A histeria em torno do Labubu gerou cenas caóticas: na Austrália e no Reino Unido, filas quilométricas e brigas forçaram redes a suspenderem vendas presenciais. Isso me lembra como o consumo pode rasgar o verniz civilizado rapidinho.
4.2 Réplicas, rituais e… política?
Versões falsificadas (“Lafufu”) inundaram mercados paralelos, obrigando a Pop Mart a implementar QR codes anti-fraude. Mais bizarro: o Labubu virou amuletos budistas na Tailândia, mascote de campanhas políticas em Singapura e foi abençoado em festivais folclóricos chineses. (verse.com.tw)
É fascinante (e um tanto perturbador) como um brinquedo pode infiltrar tantas esferas da sociedade.
5. Por que compramos Labubu?
5.1 Psicologia do aleatório e nostalgia
A incerteza vicia. Mas não é só isso. Colecionar Labubus reativa memórias de infância — Tamagotchis, Pokémon cards, Beanie Babies. É o mesmo ciclo: exclusividade + escassez + “eu tinha isso antes de virar modinha”. (linkedin.com)
5.2 Consumismo emocional
Tem algo terapêutico no Labubu: em um mundo ansioso e hipercompetitivo, agarrar um monstrinho fofarrão pode ser um ato de autoafago. Não é racional, mas quase nada que importa de verdade é.

6. Comparações inevitáveis
Fenômeno | Ponto comum |
---|---|
Tamagotchi | Apego emocional, “bichinho que precisa de você” |
Beanie Babies | Valor inflado pela raridade, bolhas especulativas |
Pokémon Cards | Caixinhas fechadas, caçada por itens raros |
Sneakers drops | Lançamentos escassos, filas, revenda caríssima |
Loot boxes | Dopamina do acaso, repetição compulsiva |
No fundo, Labubu é o primo digital-analógico desses fenômenos. A história se repete — só muda o figurino.
7. O impacto econômico
- Em 2024, a série “The Monsters” faturou 6,3 bilhões yuans (~US$ 870 milhões).
- A gestora chinesa Penghua viu retorno de 24% em 2025 ao investir na Pop Mart.
- O fundador Wang Ning se tornou um dos 10 homens mais ricos da China, com fortuna de US$ 22,7 bilhões.
- Em junho de 2025, um Labubu gigante foi leiloado por 1,08 milhão yuans (~€ 131.600). (elpais.com)

8. Tendências e riscos
8.1 Um brilho que pode esmaecer
A Pop Mart segue crescendo, mas há sinais de fadiga: inflação global, críticas à sustentabilidade dos vinis e preocupações éticas sobre consumo infantil. Na Rússia, parlamentares já discutem banir blind boxes com personagens “aterrorizantes” como o Labubu. (nssmag.com)
É o custo de virar mainstream.
9. Labubu além da Ásia
O mais intrigante para mim é o Labubu ser considerado soft power chinês. Pela primeira vez, um brinquedo asiático (fora Pokémon) conquista o Ocidente sem precisar de licença japonesa ou americana.
Isso diz muito sobre o momento geopolítico e sobre como a China quer exportar não só produtos, mas também emoções, estéticas e valores.
Conclusão
Labubu é um desses paradoxos que definem o nosso tempo: ao mesmo tempo fofo e perturbador, comercial e artístico, pessoal e tribal. Ele concentra em poucos centímetros de vinil a nossa necessidade de pertencer, exibir, colecionar e sentir — tudo isso embrulhado numa embalagem de dopamina.
Vai durar para sempre? Provavelmente não. Mas por enquanto, o Labubu continua sorrindo, meio zombeteiro, pendurado nas bolsas do planeta inteiro. Talvez rindo de nós mesmos, que precisamos tanto dele.